Garimpeiro,
quadro de Tarsila do Amaral 1972
TESTAMENTO DO GUARDA MOR PORTUGUÊS DE MANUEL JOSÉ MONTEIRO DE BARROS
Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, três pessoas distintas e um só Deus. Verdadeiro. Saibam quantos este público instrumento ou como em direito melhor lugar haja virem que no ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e oitenta e nove anos, aos dezoito dias do mês de junho do dito ano, nesta freguesia da Nossa Senhora da Conceição de Congonhas do Campo, comarca de Vila Rica onde eu Manuel José Monteiro de Barros estando em meu perfeito juízo e querendo evitar toda e qualquer duvida ou desordem que possa haver depois de meu falecimento a respeito de meus bens e administração de minha casa e família faço este meu solene testamento na forma seguinte – Meu corpo será amortalhado no hábito de Nossa Senhora do Carmo de quem sou irmão Terceiro e sepultado na Igreja Matriz, será acompanhado á sepultura por doze sacerdotes da freguesia os quais também dirão missa de Corpo Presente por minha alma e assistirão ao oficio que da mesma sorte se há de fazer na Matriz no dia em que for sepultado e haverão a esmola taxada pelo Regimento. Rogo e peço a minha mulher Dona Margarida Eufrásia da Cunha Matos e a meus filhos o Doutor Lucas Antonio Monteiro e João Gualberto de Barros e a meu cunhado o reverendo Marçal da Cunha e Matos queiram ser meus testamenteiros dando cumprimento a esta minha ultima vontade. Declaro que sou natural da freguesia de São Miguel das Marinhas, termo de Espozende, comarca de Barcelos e Arcebispado de Braga, filho legitimo de João Vieira Repincho e de Dona Mariana Monteiro de Barros. Já defuntos. Declaro que sou casado com a sobredita Dona Margarida Eufrásia da Cunha Matos de quem tenho os filhos seguintes: o Doutor Lucas Antonio que proximamente foi a Lisboa para se despachar, João Gualberto que se acha em Coimbra próximo a formar-se, Mateus Herculano Monteiro, Romualdo, José, Marcos, Manuel, Maria e Ana. Declaro que como os bens que possuo são lavras com serviços minerais, ferramentas necessárias para eles, escravos, regos d’água, terras de cultura e tudo o mais que constitui o monte mor dos mesmos bens é minha vontade e ultima disposição que se conserve tudo em ser debaixo da administração de minha sobredita mulher Dona Margarida Eufrásia a qual torno a nomear por minha universal testamenteira, administradora, procuradora e benfeitora de meus bens e também por tutora de meus filhos menores para tomar conta dos mesmos de sorte que feito inventário de todos os meus bens fiquem estes sempre conservados em monte até os ditos meus filhos terem idade competente para se lhes entregarem ou tomarem estado para o que hei por abonada a referida minha mulher na falta da qual nomeio a meu filho Doutor Lucas Antonio e João Gualberto acima nomeados e a qualquer deles in solidum, nomeio e torno a dizer instituo por meus testamenteiros e tutores de seus irmãos ficando sempre com o mesmo encargo da administração de todos os meus bens em ser assim e da mesma fora que acima declaro. Declaro que entre os escravos que possuo acha-se uma mulata por nome de Mariana, outra chamada Ana Izabel, mãe de Maria Salomé, um mulatinho chamado João aos quais todos como também a Maria Salomé deixo forros e para que em tempo algum haja equivocações, declaro que Mariana dita é filha de Justa crioula, Ana Izabel filha de Maria Fragata e João filho de Ana Fragata. Declaro que deixo á Nossa Senhora da Conceição desta freguesia, umas casas sitas atrás da mesma matriz que confinam parte com outras de Miguel Gonçalves Cadaval e de outra com outras que me pertencem e se repartirão igualmente o terreno do quintal para ambas, tomando logo conta do que deixo a Nossa Senhora da Conceição o procurador de sua irmandade. Declaro que da divida que me deve minha cunhada Dona Ana Petronilha lhe abato por esmola cincoenta mil réis. Declaro que perdôo por esmola o que minha comadre Bárbara, mulher viúva de Manuel Teixeira de Morais me deve por um credito o qual se lhe entregará. Declaro que se darão trinta e duas oitavas em ouro ou em valor das mesmas a Mariana aquem acima deixo forra. Declaro que no Convento de Nossa Senhora do Carmo no Rio de Janeiro se mandarão dizer cem missas pela minha alma e outras cem pelas almas de meus parentes mais chegados e cento e cincoenta e seis pelas almas de quaisquer pessoas a quem eu deva algumas restituições de cousas módicas. Declaro que no dia do meu enterro se repartirão a quantia de seis oitavas de ouro pelos pobres que nele se acharem dando-se quatro vinténs a cada um. Declaro que no dia seguinte ao meu funeral se dirão na Matriz em rol assinado por meu testamenteiro sessenta e quatro missas da esmola costumada. Declaro que se dará a meu irmão João Caetano a quantia de dez oitavas de ouro. Declaro que se pagará à minha Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo o que eu estiver devendo até o tempo de meu falecimento e o mesmo se executará para com todas as Irmandades de que sou irmão. Declaro que as pessoas de conhecida verdade que disserem que eu lhes sou devedor de quantias módicas estas lhes sejam pagas sem contenda de Justiça. E nesta forma concluo este meu testamento pedindo as Justiças de sua Majestade de um e outro foro o façam inteiramente cumprir e guardar como fica declarado por seu tudo disposto conforme a minha ultima vontade para cujo efeito roguei ao licenciado Francisco Antonio de Souza que este por mim escrevesse em fé do que me assino, dia e era ut supra. Manuel José Monteiro de Barros. Como testemunha de que este fiz a rogo do testador. Francisco Antonio de Souza.
Termo de apresentação. Aos dez dias do mês de Julho de mil setecentos e oitenta e nove (1789) anos nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto em casas de morada do Doutor Provedor atual, Pedro José Aranha de Saldanha, do Desembargo de Sua Majestade Fidelíssima que Deus Guarde e sendo ai foi apresentado este testamento com que faleceu o Guarda-Mor Manuel José Monteiro de Barros já aberto pelo coadjutor o Reverendo Jose Afonso Bragança como consta de sua certidão que pelo achar sem vicio rasuras nem entrelinhas, de que para constar mandou lavrar este termo de apresentação que assina com o apresentante. Eu, Luiz Gomes da Fonseca, escrivão da Provedoria dos Defuntos e Ausentes Capelas e Resíduos que o escrevi. Saldanha. Antonio Moreira da Silva. (Registro nº 43, fls. 59 do livro de registro de testamentos)”.
FONTE: "A Família Monteiro de Barros", de Frederico de Barros Brotero, São Paulo, 1951.